19 outubro, 2008

Man in the mirror


Foto: José Ícaro Ramalho
Título: Fluxostático
Fonte:
Olhares.com


"I'm gonna make a change, for once in my life
It's gonna feel real good, gonna make a difference
Gonna make it right...

As I turn up the collar on my favorite winter coat
This wind is blowin' my mind
I see the kids in the street, with not enough to eat
Who am I, to be blind?
Pretending not to see their needs
A summer's disregard, a broken bottle top
And a one man's soul
They follow each other on the wind ya' know
'Cause they got nowhere to go
That's why I want you to know

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
And no message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
Take a look at yourself, and then make a change

I've been a victim of a selfish kind of love
It's time that I realize
That there are some with no home, not a nickel to loan
Could it be really me, pretending that they're not alone?

A willow deeply scarred, somebody's broken heart
And a washed-out dream
They follow the pattern of the wind, ya' see
Cause they got no place to be
That's why I'm starting with me

I'm starting with the man in the mirror
I'm asking him to change his ways
And no message could have been any clearer
If you wanna make the world a better place
Take a look at yourself and then make a change"

Michael Jackson

16 outubro, 2008

Do tempo



"Tenho saudades tuas. Do tempo em que éramos dois mas éramos um só. Do tempo em que o primeiro telefonema do dia era para ti. Do tempo em que éramos um do outro e gostávamos disso. Do tempo em que os dias passavam devagar mas não importava porque à noite estávamos juntos. Do tempo em que os teus pés gelados procuravam os meus debaixo dos lençóis. Do tempo em que falávamos com o olhar. Do tempo em que o teu toque me arrepiava. Do tempo em que os teus abraços eram remédio para tudo. Do tempo em que o silêncio não era uma arma. Do tempo em que as discussões eram pretexto para nos amarmos. Do tempo em que me sentia amado. Do tempo em que me fazias feliz e eu a ti. Do tempo em que éramos felizes mas não sabíamos. Tenho saudades nossas."

Pedro Rapoula
Da Inquietude

14 outubro, 2008

A poesia a serviço do mundo real

Fabrício Carpinejar é um dos meus escritores favoritos. Acompanho com frequência o seu blog. De uns tempos pra cá, ele começou a prestar um "serviço público", respondendo cartas e emails de leitores acercas de problemas pessoais. E esse é mais um site que merece ser acompanhado.

Consultório poético

Alguns trechos das últimas cartas:

Ele me traiu duas vezes com a mesma amante

"O amor é mundano ou é santo.

O mundano é o que não atravessa nenhuma tempestade para se definir santo. É a brisa dos costumes. Afirmação alinhada à concordância. Não teve nenhuma crise, nenhum estremecimento sério, para testar suas contradições.

Sem incoerência, não há amor santo. O amor é uma incoerência coerente somente aos dois envolvidos.

No santo, quem ama está terrivelmente sozinho, contra a opinião da maioria."


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O piloto-automático do casamento

"A felicidade enjoa.

Sem escolhas é como se o dia-a-dia fosse emprestado. Criou, portanto, uma encruzilhada para tudo parecer mais verdadeiro, mais dramático, para readquirir o direito de optar e decidir.

Tampouco é o segredo ou a vida dupla que a atormenta, é o excesso de domínio do casamento. O flerte é uma forma de sair do combinado, do estabelecido, da expectativa. Remodelar o impulso. Discutir as certezas anteriores. Redescobrir o prazer de não controlar o prazer.

Veja seu marido: demonstra uma amizade conhecida, com respeito e entendimento fácil.
Disse entendimento, não cumplicidade. Ele é receptivo às suas queixas. Tanto que procurou terapia. Vocês estão juntos pelo contexto: família, negócios, lembranças comuns. Mas cansou de decorar as respostas. A facilidade conjugal a irrita. O que a leva para o outro lado é a paixão. Não ter posse do que acontecerá: não prever se vai transar ou não no próximo encontro com o namorado, prolongar uma clandestinidade que a excita e a põe em movimento na dúvida e na crise de identidade.

(...)

Não ter ido para a cama com o rapaz não diminui o impasse, só faz aumentar a curiosidade por aquilo que não se viveu. A dignidade não é o problema, e sim se pode ser tão feliz dentro daquilo que já a tornou feliz algum dia. Apesar de não acreditar nisso, a felicidade pode se repetir. E sua repetição é aprofundamento.

Não gosta da previsibilidade. Em seu raciocínio, é ladainha monótona e morna. Projeta no marido sua necessidade de mudar (sua falta de ânimo é dele, seu marasmo é dele, os problemas de relação são dele). Não assumiu parte da dívida.

(...)

Tanto o homem e a mulher se esforçam prodigiosamente para o amante, armando encontros impossíveis e articulando horários inacreditáveis, porém não são capazes de se esforçar nem um pouco para manter o casamento. Deixam no piloto-automático e culpam o poste pelo acidente."


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E aqui, o novo texto do Carpinejar, publicado no blog.



RECONCILIAÇÃO
Arte de Gustav Klimt

"O canalha tem o apetite tanto para a conversa quanto para o sexo. Na mesma proporção. A conversa é o único acesso que o leva ao sexo selvagem.

Conversar antes do sexo é nossa possibilidade de melhorar a transa. Conversar depois do sexo é nossa capacidade de piorar a transa.

Repare que homem quando fala demais depois de trepar é porque broxou. Homem só se dispõe ao desabafo no fracasso. Ele fuma as palavras para manter sua reputação ereta, já que não conseguiu dominar o espírito.

Quando satisfeito, abraçará o silêncio, como uma camisa gasta e valiosa. Não reclame do ronco do marido, do namorado. Homem feliz sexualmente ronca de tanto silêncio acumulado.

O canalha não liga para o primeiro encontro, a delícia do primeiro encontro. Deixa os começos para os cafajestes. Ele é alucinado pelas reconciliações. Talvez isso explique sua paixão paradoxal pelo casamento.

Reatar um amor é mais trepidante do que iniciar um amor. Conquistar novamente uma boca que não o quer mais, decidida a desaforá-lo, tem mais suspense do que conhecer uma boca. A despedida humilha a estréia. Erótica pela necessidade de uma resposta urgente e agora. Transferir o nervosismo de fazer as malas para desfazer a cama.

A tensão favorece a nudez. Um abraço não é mais um abraço, mas um choque de seios contra seu peito. Visceral, um quadro sem moldura.

Canalha que é canalha não fugirá de discutir o relacionamento ou ter um papo sério. É o primeiro a sentar. É no desentendimento que cresce. Na argumentação. Nas ofensas gritadas, choradas, quando os gatos da garganta enlouquecem os telhados.

Briga boa é feita na cozinha, com copos, pratos, facas e garfos à disposição. Com um repertório de armas nos armários.

Quando a relação está por um fio, quando tudo está contra ele, todas as evidências, ele renasce e não aceita o desespero. Acostumado a viver de sustos, não entra em pânico. Está em seu território movediço, em seu escritório de verossimilhanças: transformar desculpas inacreditáveis em versões realistas, formular enredos para coincidências, fundamentar acasos.

Enquanto muitos escapam na hora de dar explicações, o canalha estende a toalha da mesa para a discussão. É o filho do inquérito. Não se precipita, seguirá seu improviso. O ultimato é uma garrafa de champanhe - é preciso tempo para gelar. Champanhe quente é a pior ressaca que existe. Casais não têm paciência para o congelador no momento da raiva, o canalha tem.

Conhece o corpo feminino para entender que as defesas vão terra abaixo na arena. Diferenças se esfarelam na fogueira.

Beijo brigado supera o beijo inocente. Beijo desculpado é a suprema carícia da língua."

04 outubro, 2008

Sob medida


Foto: Alberto Viana d'Almeida
Fonte: Olhares.com


"Se você crê em Deus
Erga as mão para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça

Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
(seu jeito, seu gesto)
Sou perfeita porque
Igualzinha a você
Eu não presto
Eu não presto

Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua
Costela

Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus

Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agraceça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece"

Chico Buarque de Holanda