15 outubro, 2010

Mágramática

"Sem horas e sem dores,
respeitável público pagão...

Todo sujeito é livre
para conjugar o verbo que quiser
Todo verbo é livre
para ser direto ou indireto
Nenhum predicado será prejudicado
Nem tampouco a frase, nem a crase
Nem a vírgula e ponto final.

Afinal, a má gramática da vida
Nos põe entre pausas
Entre vírgulas
E estar entre vírgulas
Pode ser aposto
E eu aposto o oposto
Que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples

Um sujeito, sua oração,
Sua pressa e sua prece
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios
para a nossa oração
Separados ou adjuntos
Nominais ou não
Façamos parte do contexto
Sejamos todas as capas
de edição especial

Mas, porém, contudo, entretanto,
todavia, não obstante,
Sejamos também a contracapa
Porque ser a capa e a contracapa
É a beleza da contradição
É negar a si mesmo
E negar a si mesmo
É muitas vezes encontrar-se com Deus
Com o teu Deus

Sem horas e sem dores,
Que nesse momento em que cada um
se encontra aqui e agora
Um possa se encontrar no outro
E o outro no um
Até por que
Tem horas que a gente se pergunta
Porque é que não se junta tudo numa coisa só?"

Fernando Anitelli

12 outubro, 2010



Título: Gente dos Gerês
Autor: José Luís Coelho Borges
Fonte:
Olhares.com

"O que chamam de rugas,
eu chamo raízes
- que de seus olhos brotem flores,
e sussurros de caules azuis."

Lauro Henriques Jr

02 outubro, 2010

Xanéu nº 5


Título: TV Saves Lives
Autor: Gustavo Kruel
Fonte:
Olhares.com


"A minha tv não se conteve
Atrevida passou a ter vida
Olhando pra mim.

Assistindo a todos os meus segredos,
minhas parcerias, dúvidas, medos,
Minha tv não obedece.

Não quer mais passar novela,
sonha um dia em ser janela
e não quer mais ficar no ar.
Não quer papo com a antena
nem saber se vale a pena
ver de novo tudo que já vi.
Vi.

A minha TV não se esquece
nem do preço nem da prece
que faço pra mesma funcionar.

Me disse que se rende a internet
em suma, não se submete
a nada pra me informar.

Não quis mais saber de festa
não pensou em ser honesta
funcionando quando precisei.

A notícia que esperava
consegui na madrugada
num site, flick, blog,
fotolog que acessei.

A minha TV tá louca,
me mandou calar a boca
e não tirar a bunda do sofá.

Mas eu sou facinho de marré-de-sí,
se a maré subir eu vou me levantar.

Não quero saber se é a cabo
nem se minha assinatura
vai mudar tudo que aprendi,

Triste o fim do seriado,
um bocado magoado
sem saber o que será de mim.

Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.
(She doesn't speak my tongue)
Não.


'Pô tô cansado de toda essa merda que eles mostram na televisão todo dia mano, não aguento mais, é foda!'

Manda bala Fernando...

Enquanto pessoas perguntam por que,
outras pessoas perguntam por que não?

Até porque não acredito no que é dito, no que é visto. Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.
Falou e disse...

Num passado remoto perdi meu controle...
Num passado remoto perdi meu controle...
Num passado remoto...

Era vida em preto e branco,
quase nunca colorida
reprisando coisas que não fiz,
finalmente se acabando feito longa,
feito curta que termina com final feliz..

Ela não SAP quem eu sou,
Ela não fala a minha língua.

Eu não sei se pay-per-view
ou se quem viu tudo fui eu.

A minha tv tá louca."


Título: Fantasmas da televisão
Autor: Grace
Fonte:
Olhares.com


Composição: Fernando Anitelli