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16 maio, 2010

Perto do coração selvagem

“Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento,
eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim,
provarei a mim mesma que nada há a temer,
que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio,
erguerei dentro de mim o que sou um dia,
a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas,
água pura submergindo a dúvida, a consciência,
eu serei forte como a alma de um animal
e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas,
não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade,
não o passado corroendo o futuro!
O que eu disser soará fatal e inteiro!”

Clarice Lispector

24 setembro, 2009

Uma aprendizagem

"...E então você não quis nada disso. E parou com a possibilidade de dor, o que nunca se faz impunemente. Apenas parou e nada encontrou além disso. Eu não digo que eu tenha muito, mas tenho ainda a procura intensa e uma esperança violenta.

...Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda...

...Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe...

...Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia..."

Clarice Lispector
Extraído de "Uma Aprendizagem ou o Livros dos Prazeres"

31 janeiro, 2007

A paixão segundo G.H.




Foto: Miguel Delgado e Silva
Título: Looking
Fonte:
Olhares.com


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mais que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que eu nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem querer precisar me procurar."

Clarice Lispector

03 outubro, 2006

Minha alma tem o peso da luz...

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

12 abril, 2006

Depois de uma tarde...


Foto: Rui Marques
Local: Porto, Portugal

Fonte: Ponte de Fogo - Olhares.com

"Depois de uma tarde de quem sou eu
e de acordar a uma hora da madrugada em desespero,
eis que as três horas da madrugada eu acordei e me encontrei.
Simplesmente isso,
eu me encontrei
calma, alegre,
plenitude sem fulminação.
Simplesmente isso
Eu sou eu,
Você é você,
É lindo,
É vasto,
Vai durar.
Eu sei mais ou menos o que eu vou fazer em seguida,
mas por enquanto olha pra mim e me ama.
Não.
Tu olhas pra ti e te amas,
é o que está certo"

Clarice Lispector