03 junho, 2007

Ilusões


Foto: Bart
Fonte: Olhares.com


"Minhas ilusões morreram…
Eu estava sentada em frente ao computador quando recebi a notícia do acidente que, alguns meses depois, se mostraria fatal.
Antes disso, elas estavam bem de saúde, mantinham uma rotina diária de exercícios, dieta (engordativa, o que, no caso das ilusões, é muito saudável), vitaminas e tendência a uma auto-estima elevada.
Elas eram tão lindas: cor-de-rosa, redondas, macias... tão confortavelmente instaladas, eu já as conhecia há tanto tempo. Eu as criei, alimentei, vesti-as com as cores mais bonitas. Sempre conversava com elas, mostrava o meu amor, minha adoração.
Não há muito que se dizer do acidente; foi um trem descarrilhado que, em um dia sombrio, frio e nublado, saiu carregando tudo.
Acompanhei a evolução do quadro clínico, vi dia-a-dia a situação piorar. A cada novo dia, elas tinham menos mobilidade, mais dificuldade para respirar. Foram colocadas em aparelhos, com tubos por todo canto. Não pareciam mais tão bonitas naquele estado. É triste dizer isso, mas as ilusões só são mantidas porque são tão bonitas...
Não estou querendo ser preconceituosa, mas ilusões feias?! Melhor não tê-las.
Depois de algum tempo, perderam a sensibilidade; mesmo que sobrevivessem andariam em cadeiras de rodas para o resto da vida.De acordo com os exames e o parecer dos médicos, não havia o que se fazer por elas. Depois de muito sofrer e lamentar, decidi pela eutanásia. Entrei no quarto escuro e desliguei os aparelhos."

Valeschka Guerra

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