31 janeiro, 2007

A paixão segundo G.H.




Foto: Miguel Delgado e Silva
Título: Looking
Fonte:
Olhares.com


"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mais que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que eu nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem querer precisar me procurar."

Clarice Lispector

20 janeiro, 2007

Nascimento



Foto: António Lança
Título: Solitária II
Fonte: Olhares.com


Nascimento

“Saio de mim mesma
como pássaro
do ovo.

De espaço
e asas
faço meu aprendizado...”

Violeta Formiga

08 janeiro, 2007

À flor da pele



Foto: Framurana
Título: A mulher que vem da estátua
Fonte: Olhares.com

À flor da pele

"Ando tão à flor da pele,
Qualquer beijo de novela me faz chorar
Ando tão à flor da pele,
Que teu olhar, flor na janela, me faz morrer
Ando tão à flor da pele,
Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser
Ando tão à flor da pele,
Que a minha pele tem o fogo do juízo final

Um barco sem porto
Sem rumo, sem vela
Cavalo sem sela
Um bicho solto
Um cão sem dono
Um menino, um bandido
Às vezes me preservo
Noutras suicido"

Zeca Baleiro

02 janeiro, 2007

Feliz 2007!!



Foto: Pedro N. S. Costa
Título: Asas da liberdade
Fonte: Olhares.com


Voa coração

"Voa coração
que a minha força te conduz
que o sol de um novo amor em breve vai brilhar

Vara a escuridão
vai onde a noite esconde a luz
clareia seu caminho e acende seu olhar

Vai onde aurora mora e acorda um lindo dia
colhe a mais bela flor
que alguém já viu nascer

E não esqueça de trazer força e magia
o sonho, a fantasia
e alegria de viver

Voa coração
que ele não deve demorar
e tanta coisa mais quero lhe oferecer

O brilho da paixão
pede uma estrela pra emprestar
e traga junto a fé de um novo amanhecer

Convida a lua cheia, minguange e crescente
e de onde se planta a paz
da paz, quero a raiz

E uma casinha lá onde mora o sol poente
pra finalmente a gente
simplesmente ser feliz..."


Toquinho

15 dezembro, 2006

O que tinha de ser



Foto: Luís Pereira Jr.
Título: Círculos
Fonte: Olhares.com


O que tinha de ser

"Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança

Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma

Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser "

Vinicius de Moraes & Antonio Carlos Jobim

10 dezembro, 2006

Sonho



Foto: Nuno Milheiro
Título: Spring Painting
Fonte: Olhares.com


Sonho
(2001)

"À noite, fechei os olhos
E me rendi ao cansaço
De mansinho, o sono chegou
E me levou pelo espaço.

Vi uma revoada de borboletas
Por sobre as flores da estrada,
Tinha uma canção da cabeça
Para alegrar minha caminhada.

No campo passei voando
Num galope disparado,
Senti o vento no rosto
Com o coração acelerado.

Vi todas as estrelas do céu
Em noite de lua cheia,
E seu brilho era um véu
De prata por sobre a areia.

Vi o sol nascer bonito
Quando o dia se levanta,
E ouvi a alegria
Da passarada quando canta.

Senti o cheiro da chuva
No olho verde da vida
E voltou ao meu coração
A alegria perdida.

No mundo dos sonhos, eu vi
Na suave claridade,
Um sol em seu olhar
Brilhar com intensidade.

Vi o sorriso dos filhos
Que ainda desejo ter
Naquele olho de sol
Que sorria, a me aquecer.

Vi tantas coisas lindas,
Arco-íris, tempestades,
O pincel de um poeta
A colorir a cidade.

Vi um dia ensolarado,
Uma noite de luar,
As quatro estações do ano,
O mundo sempre a girar.

Senti o cheiro da terra
No meu corpo se perder
Senti o sorriso da vida
Em meus lábios florescer
E, ao acordar da viagem,
Sei que sonhei com você..."

17 outubro, 2006

Sorrisos




Foto: Sérgio Redondo
Fonte: Olhares.com



Sorrisos

"Fiz poesias para você... ainda as faço.
Palavras de tinta azul na folha em branco
Cujas linhas direcionam meus pensamentos,
Sensações, desejos, sentimentos
Descrevo o teu sorriso, o teu olhar,
A sutileza dos gestos,
Enquanto sua respiração quente arrepia minha pele.
Meu olhar sorri.

Sonhei com você... ainda sonho
Entre flores e pesadelos,
sensações surreais de amor e distância
Que preenchiam minha cama nas noites de solidão e ânsia.
Meu sono sorri.

Viajei com você... ainda viajo.
Demos uma volta ao mundo juntos.
Navio, carro, avião, estrada.
Quantas luas, quantos sóis nessa nossa caminhada
Quantas noites estreladas vivemos na grama molhada
Nos quatro cantos do mundo.
Meu caminho sorri.

Fiz amor com você... ainda faço.
Minha cama em fogo, cheiros, toques, sons e gritos
Respiração pesada e quente no meu peito
Jeito de quem não tem medo e nem pudor
Do sexo e do amor.
Meu corpo sorri.

Tive filhos com você... ainda os tenho.
Crianças brincam ao meu redor.
Seu sorriso eu vejo em cada rosto
E o brilho dos seus olhos brota do meu ventre,
Rasga o corpo e eu te dou à luz.
Meu filho sorri.

Vivi com você... ainda vivo.
Quanto tempo durou? Não sei.
Sei que já acabou.
Mas, em meu pensamento,
Ainda vivemos juntos, ao sabor do vento
E eu sei que ainda espero o teu retorno, forte e quente
Para que o meu sorriso volte a estar presente
Nas suas canções."

Em 08 de dezembro de 2000

14 outubro, 2006

Soneto da palavra



Foto: Nuno André Monteiro
Fonte: Olhares.com


Soneto da palavra

"A palavra nos define
A palavra nos limita
Existimos pela palavra
Verbo: palavra infinita.

Difícil é comunicar,
Expressar, abrir a boca
A palavra nos expõe
É como tirar a roupa.

Despir o corpo de seu sentido
Esvaziar-me de tudo:
Do sagrado e do proibido.

Virar palavra única, essencial.
Assim me encontro, grito mudo
Silêncio: palavra final."

22 de maio de 2001

(escrito após uma falha de comunicação no diálogo dos meus sentimentos com os teus...)

03 outubro, 2006

Minha alma tem o peso da luz...

"Minha alma tem o peso da luz.
Tem o peso da música.
Tem o peso da palavra nunca dita,
prestes quem sabe a ser dita.
Tem o peso de uma lembrança.
Tem o peso de uma saudade.
Tem o peso de um olhar.
Pesa como pesa uma ausência.
E a lágrima que não se chorou.
Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros."

Clarice Lispector

27 agosto, 2006

Sugestão



Foto: Rubem Graça
Fonte: Olhares.com


Sugestão

"Antes que venham ventos e te levem
do peito o amor — este tão belo amor,
que deu grandeza e graça à tua vida —,
faze dele, agora, enquanto é tempo,
uma cidade eterna — e nela habita.

Uma cidade, sim. Edificada nas nuvens,
não — no chão por onde vais,
e alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito assim que dentro dela caiba
o mundo inteiro: as árvores, as crianças,
o mar e o sol, a noite e os passarinhos,
e sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te suja, o que te transfigura,
teus pecados mortais, tuas bravuras,
tudo afinal o que te faz viver
e mais o tudo que, vivendo, fazes.

Ventos do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão varrendo, vão, vão carregando
e desfazendo tudo o que de humano
existe erguido e porventura grande,
mas frágil, mas finito como as dores,
porque ainda não ficando — qual bandeira
feita de sangue, sonho, barro e cântico —
no próprio coração da eternidade.
Pois de cântico e barro, sonho e sangue,
faze de teu amor uma cidade,
agora, enquanto é tempo.

Uma cidade onde possas cantar
quando o teu peito parecer,
a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde possas brincar sempre que as praças
que percorrias, dono de inocências,
já se mostrarem murchas, de gangorras
recobertas de musgo, ou quando as relvas
da vida, outrora suaves a teus pés,
brandas e verdes já não se vergarem
à brisa das manhãs.

Uma cidade onde possas achar,
rútila e doce, a aurora
que na treva dissipaste;
onde possas andar como uma criança
indiferente a rumos: os caminhos,
gêmeos todos ali, te levarão
a uma aventura só — macia, mansa —
e hás de ser sempre um homem caminhando
ao encontro da amada, a já bem-vinda
mas, porque amada, segue a cada instante
chegando — como noiva para as bodas.

Dono do amor, és servo. Pois é dele
que o teu destino flui, doce de mando:
A menos que este amor, conquanto grande,
seja incompleto. Falte-lhe talvez
um espaço, em teu chão, para cravar
os fundos alicerces da cidade.

Ai de um amor assim, vergado ao vínculo
de tão amargo fardo: o de albatroz
nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do céu e que, entretanto,
no momento de alçar-se para a viagem,
descobre, com terror, que não tem asas.

Ai de um pássaro assim, tão malfadado
a dissipar no campo exíguo e escuro
onde residem répteis: o que trouxe
no bico e na alma — para dar ao céu.

É tempo. Faze tua cidade eterna,
e nela habita:
antes que venham ventos, e te levem
do peito o amor — este tão belo amor
que dá grandeza e graça à tua vida."

Thiago de Mello

25 agosto, 2006

Maurício

Nestes últimos dias, tenho acordado assim meio que de mau humor, meio que querendo colo, mas querendo ficar sozinha.
Um aperto grande no peito, como a iminência de algo, de uma explosão, de uma descoberta que vai de novo me jogar no abismo.
Ontem, consegui fazer algo bom, que me ajudou a afastar isso, mas hoje não está acontecendo.
Então, estou quieta, no canto, só observando pra ver se essa sensação passa, se o nó se desfaz, ou se consigo identificar o que está para acontecer.
Não sei se quero identificar isso como uma tentativa de prevenir, evitar que aconteça, ou de me preparar para aquilo que não será mais inesperado, mais ainda assim uma surpresa.

Acho que estou ouvindo Legião Urbana demais...



Foto: Patagonia
Fonte: Olhares.com


Maurício

"Já não sei dizer se ainda sei sentir
O meu coração já não me pertence
Já não quer mais me obedecer
Parece agora estar tão cansado quanto eu.

Até pensei que era mais por não saber
Que ainda sou capaz de acreditar.
Me sinto tão só
E dizem que a solidão até que me cai bem.

Às vezes faço planos
Às vezes quero ir
Para algum país distante e
Voltar a ser feliz.

Já não sei dizer o que aconteceu
Se tudo que sonhei foi mesmo um sonho meu
Se meu desejo estão já se realizou
O que fazer depois
Pra onde é que eu vou?
Eu vi você voltar pra mim."

Renato Russo

24 agosto, 2006

Explode coração



Foto: Edson Santos
Fonte: Olhares.com


"Chega de tentar dissimular
e disfarçar
e esconder
o que não dá mais pra ocultar
E eu não posso mais calar
já que o brilho desse olhar
foi traidor
e entregou o que você tentou conter
o que você não quis desabafar
e me cortou

Chega de temer, chorar, sofrer
sorrir, se dar
e se perder
e se achar
e tudo aquilo que é viver
eu quero mais é me abrir
e que essa vida entre assim
como se fosse o sol
desvirginando a madrugada
quero sentir a dor dessa manhã

Nascendo, rompendo, rasgando,
tomando meu corpo
e então eu
chorando, sofrendo, gostando,
adorando, gritando
feito louca, alucinada e criança
sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar
Explode coração"

Gonzaguinha

23 agosto, 2006

O amor é fogo que arde sem se ver



Obra: "O beijo"
Autor: Auguste Rodin


"Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"

Luís de Camões

18 agosto, 2006

Anabela



Foto: Sérgio Rodrigo
Fonte: Olhares.com


Anabela

"No porto de Vila Velha
Vi Anabela chegar
Olho de chama de vela,
Cabelo de velejar,
Pele de fruta cabocla
Com a boca de cambucá
Seios de agulha de bússola
Na trilha do meu olhar
Fui ancorando nela
Naquela ponta de mar

No pano do meu veleiro
Veio Anabela deitar
Vento eriçava o meu pelo
Queimava em mim seu olhar
Seu corpo de tempestade
Rodou meu corpo no ar
Com mãos de rodamoinho
Fez o meu barco afundar

Eu que pensei que fazia
Daquele ventre meu cais
Só percebi meu naufrágio
Quando era tarde demais
Vi Anabela partindo
Pra não voltar nunca mais"

Música: Mário Gil e Paulo César Pinheiro
Interpretação: Renato Braz

28 julho, 2006

Muito obrigado


Foto: Rui Calado Nogueira
Fonte: Olhares.com


Muito obrigado

"as igrejas prometem a salvação do povo
as esquerdas defendem a liberdade do povo

os governos constroem casas para o povo
os artistas elaboram arte para o povo

psicólogos propõem a terapia do povo
pedagogos descobrem como educar o povo

os políticos garantem a proteção do povo

o povo agradece comovido
e manda dizer que não está"

Ronaldo Monte de Almeida

14 julho, 2006

O filho que eu quero ter...


Foto: Retrato de um anjo
Autor: Ricardo Costa Vieira
Fonte: Olhares.com


Em homenagem aos amigos Alexandre e Franci (pais do Felipe), Junior e Geyza (pais do Guilherme), e o mais novo casal da lista, Gianna e Ronny (pais de ?).
Beijos enormes, meus amigos.
Muitas felicidades pra estas famílias que se iniciam.

O filho que eu quero ter

"É comum a gente sonhar, eu sei
Quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar
Um sonho lindo de morrer

Vejo um berço e nele eu me debruçar
Com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar
O filho que eu quero ter

Dorme, meu pequenininho
Dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho
De tanto amor que ele tem

De repente o vejo se transformar
Num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar
Quando eu chegar lá de onde eu vim

Um menino sempre a me perguntar
Um porquê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem
E a quem só diga que sim

Dorme, menino levado
Dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado
De tanta dor que ele tem

Quando a vida enfim me quiser levar
Pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar
No derradeiro beijo seu

E ao sentir também sua mão vedar
Meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar
Num acalanto de adeus

Dorme, meu pai, sem cuidado
Dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado
Com o filho que ele quer ter"

Toquinho e Vinícius de Moraes

09 julho, 2006

Soneto


Foto: Mintegui
Fonte: Olhares.com


Soneto

"De leve beijo as suas mãos pequenas
Alvas, de neve, e, logo um doce, um breve
Fino rubor lhe tinge a face apenas
De leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas,
E o vento a beija e como o vento, deve
Ser o meu beijo em suas mãos serenas
- Tão leve o beijo como o vento é leve.

Que essa divina flor, que é tão suave
Ama o que é leve, como um leve adejo
de vento ou como um garganteio de ave.

E já me basta para meu tormento
Saber que o vento a beija, e que o meu beijo
Nunca será tão leve como o vento..."

Zeferino Brasil

30 junho, 2006

Despedida



Foto: Melancolia
Autor: Graça
Fonte: Olhares.com


Despedida

"Não me coroes, Alma querida, de rosas:
o encanto da Juventude é efêmero;
e a minha é quase extinta.
Também não me coroes de louros:
a Glória não fala ao coração, nem o ouve;
passa longínqua e fria.
Coroa-me das heras, que abraçam as graves ruínas:
são da humildade símbolo, e da tristeza eterna..."

Carlos Magalhães de Azeredo

21 junho, 2006

Eu apenas queria que você soubesse...


Foto: Paulo Amado
Lugar: Casa de Fados, em Lisboa


Eu apenas queria que você soubesse...

"Eu apenas queria
que você soubesse
Que aquela alegria
ainda está comigo
E que a minha ternura
não ficou na estrada
não ficou no tempo
presa na poeira

Eu apenas queria
que você soubesse
Que esta menina
hoje é uma mulher
E que esta mulher
é uma menina
que colheu seu fruto
na flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer
a todo mundo que me gosta
que hoje eu me gosto muito mais
porque me entendo
muito mais também
E que a atitude
de recomeçar
É todo dia, toda hora
É se respeitar
na sua força e fé
Se olhar bem fundo
até o dedão do pé

Eu apenas queria
que você soubesse
Que essa criança
brinca nessa roda
E não teme o corte
de novas feridas
pois tem a saúde
que aprendeu com a vida"

Gonzaguinha

18 junho, 2006

Lua adversa


Foto: The burning heart
Autor: Sombra de Prata
Fonte: Olhares.com


Lua adversa

"Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua)

No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."

Cecília Meireles